Por Breno Damascena
Os quatro anos de conflitos entre a libertação de Nelson Mandela da prisão, em 1990, e sua eleição para presidente da África do Sul, em 1994, foi um dos períodos mais violentos da história. De um lado, o Congresso Nacional Africano (CNA), de Mandela. Do outro, o Inkatha, partido separatista da etnia zulu. No meio do fogo cruzado, Greg Marinovich, João Silva, Ken Oosterbroek e Kevin Carter. Fotojornalistas que arriscaram suas vidas para mostrar ao mundo o que acontecia em lugares que ninguém mais tinha coragem de ir. Juntos, eles formavam o Bang Bang Club.
Guerra entre os Inkhata e o CNA
As fotografias chamavam a atenção do mundo para as injustiças e exclusões geradas pelo Apartheid e pelas guerras na África do Sul. Auxiliados pelo fato de serem brancos em uma guerra de negros, conseguiam adentrar nas organizações em batalha e em conflitos armados. Além de presenciar, diariamente, assassinatos, torturas e explorações. Essas fotos deram ao grupo popularidade e prêmios, mas os levou a um embate ético sobre a real função do ofício. Em algum momento eles deveriam largar as câmeras para ajudar? Até onde se pode explorar o sentimento alheio?
Foto de um inkatha queimado vivo. Rendeu um Pulitzer a Greg Marinovich
Em razão de algumas dessas imagens, Greg Marinovich recebeu, em 1990, um prêmio Pulitzer por uma série de fotos em que um homem identificado como Inkatha é queimado vivo por integrantes da CNA, em Soweto. O prêmio Pulitzer de Kevin Carter veio após viagem ao Sudão, em 1993, com a foto de uma criança sem forças para se levantar e um urubu à espera de sua morte. Essa imagem causou grande revolta por parte de algumas pessoas que perguntavam o que ele havia feito para ajudá-la. A angústia que tomou conta de Kevin resultou no seu suicídio, em 1994.
Foto que garantiu o Prêmio Pulitzer a Kavin Carter
Essa temporada de horrores trouxe ao Bang Bang Club grandes sequelas. Além do suicídio de Carter, Oosterbroek morreu no campo de guerra, poucos dias antes da eleição de Mandela como primeiro presidente negro da África do Sul. Greg, para manter a imparcialidade, teve que fugir, ao ser intimado pela polícia por fotografar o crime contra o suposto Inkatha. Recentemente, João Silva teve as duas pernas amputadas ao pisar em uma mina enquanto acompanhava uma ação militar no Afeganistão.
Fotografia de Kevin Carter tirada por Greg Marinovich
Juntos, João Silva e Greg Marinovich escreveram o livro The Bang Bang Club (O clube do Bangue Bangue, no Brasil). E, em 2010, foi lançado um filme honônimo (Repórteres de Guerra, no Brasil) que conta a história dos quatro fotógrafos. Sobre o dilema entre fotografar e ajudar, Greg Marinovich fala “Às vezes nos sentíamos uns abutres. Pisamos em cadáveres, metafórica e literalmente, e fizemos disso nosso ganha-pão. Mas nunca matamos ninguém e, na verdade, até salvamos algumas vidas”.
Guerra civil africana
Assista abaixo ao trailer do filme ‘Repórters de Guerra’:
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