Texto por Carolina Pavan
Arte por Bruna de Araujo e Raphaele Caixeta
Segundo o dicionário Oxford, a palavra do ano de 2013 foi selfie – e isso ocorreu devido a um crescimento de 17 mil por cento em seu uso no ano passado. No entanto, mais do que a origem ou o uso da palavra, o que chama a atenção é como o ato em si virou hábito.
A chamada “cultura dos selfies” se caracteriza pela necessidade de expor acontecimentos nas redes sociais. Mais importante do que ir ao novo restaurante ou à exposição que está sendo comentada é mostrar que você esteve presente.
Já não era novidade que a presença das famosas selfies vinha crescendo a passos largos, mas acontecimentos incomuns envolvendo as fotografias trouxeram à tona um debate importante: qual seria o limite entre a liberdade de expressão na era da internet e a preservação dos mais básicos direitos individuais? Qual é a etiqueta quando todos parecem querer mostrar tudo o que fazem?
A discussão voltou a ganhar força depois do flagra no velório do candidato à Presidente da República Eduardo Campos. Em meio à comoção, uma senhora desafia o caráter do momento fúnebre para retratar a situação tirando uma selfie com o corpo velado do ex-governador de Recife.
Essa senhora faz parte de uma longa lista de pessoas que, por inúmeras razões, priorizam cegamente a exposição viral do momento em relação à vivência do presente, chegando ao ponto de cometer certas indelicadezas.
Os Tumblrs americanos “Selfies at Funerals” e “Selfies with Homeless People” (do inglês “Selfies em Funerais” e “Selfies com Mendigos”) trazem uma compilação de fotografias em situações no mínimo questionáveis. A página já desativada do Facebook With My Besties in Auschwitz (“Com meus melhores amigos em Auschwitz”) apresentava, carregada de ironias, fotos de adolescentes israelenses posando ao lado de crematórios e montes de cinzas encontrados na maior rede de campos de concentração do mundo.
Ainda é interessante perceber que o senso de conveniência demonstra falhas tanto em pessoas anônimas quanto nas mais conhecidas personalidades. No memorial de Nelson Mandela, o presidente dos Estados Unidos Barack Obama foi registrado tirando uma selfie com o primeiro ministro britânico e a premiê dinamarquesa. A fotografia repercutiu de forma surpreendente – mesmo dentro do que se espera de uma foto tão descontraída do presidente em um momento fúnebre.
Talvez sempre tenha sido assim, mas a realidade atual nos permite espalhar os acontecimentos pessoais de uma forma muito mais eficiente. As curtidas são as moedas de troca da modernidade e a carência de ideias e de produtos culturais têm nos levado à egolatria.
De acordo com a professora Maria Goreti Betencourt, supervisora do núcleo de publicidade da Agecom UPF, “o mundo está bastante narcisista. É uma estratégia que favorece esse tipo de exposição, utilizar-se da selfie para que, de certa forma, preencha um vazio. Eu preciso olhar para o outro para me construir como um sujeito”, explica.
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