Por Taise Borges
“O Repórter Esso tinha mais credibilidade do que tem, hoje, o Jornal Nacional.”
Roberto Figueiredo, radialista
O Repórter Esso foi o primeiro noticiário do radiojornalismo brasileiro. Criado nos Estados Unidos em 1935, se expandiu para a América Latina como estratégia para neutralizar a influência que a Rádio de Berlim exercia sobre a região. Foi lançado na Argentina, Uruguai, Chile, Venezuela e em nações da América Central, como Panamá e Honduras. Alcançou 14 países, constituindo a maior rede radiofônica do mundo. No Brasil, começou em agosto de 1941, comandado pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro.
A Agência Nacional e, principalmente, a United Press International (UPI), abasteciam o jornal com notícias que chegavam aos estúdios via telégrafo. A Empresa Norte-americana de Petróleo (Standard Oil Company of Brazil), a Esso, patrocinava e orientava o modelo do noticiário nos diversos países em que ele existia. A empresa não utilizava o departamento de jornalismo da Rádio Nacional, pois queria manter a total responsabilidade sobre o que era veiculado no programa.
O jornal O Estado de S. Paulo anunciou o primeiro programa do Repórter Esso no Brasil
O noticiário entrava no ar às 8h, 12h55, 18h30, 20h25 e 22h05, e tinha apenas 5 minutos de duração. O poder de síntese das informações impulsionou inovações como a criação do lide em rádio e a introdução do texto de frases curtas e objetivas. Antes do Repórter Esso, as notícias veiculadas na rádio eram lidas diretamente dos jornais impressos. A inovação e credibilidade do noticiário fizeram com que os slogans “Repórter Esso, a testemunha ocular da história” e “Repórter Esso, o primeiro a dar as últimas” ficassem famosos na época.
Exemplo da confiança do público no jornal está no episódio em que a Rádio Tupi noticiou o término da Segunda Guerra. Os ouvintes do Repórter Esso ficaram decepcionados com o fato de o programa ter sido superado pelo concorrente e, em protesto, se aglomeraram de frente a sede do jornal. A verdade era que a guerra não tinha chegado ao fim e que a Rádio Tupi se antecipara erroneamente ao veicular a informação. Oito dias depois, em edição extraordinária, o Repórter Esso noticiou o fim definitivo da Segunda Guerra Mundial.
A censura militar e o advento da TV contribuíram profundamente para a decadência do Repórter Esso. A credibilidade do noticiário foi comprometida pela censura, na medida em que seu conteúdo fútil não atendia mais aos anseios dos ouvintes. Com o surgimento da televisão, a rádio sofreu importante perda de audiência, agravada pelo desmembramento das emissoras AM e FM – a FM era mais atrativa aos jovens, pois privilegiava a música em detrimento da notícia. Como o Repórter Esso era veiculado em AM, sua audiência sofreu significativa queda.
Roberto Figueiredo fez a última transmissão em 31 de dezembro de 1968, quando o noticiário já era veiculado pela Rádio Globo. No último Repórter Esso, o programa trouxe algumas das notícias mais importantes dos seus 27 anos em atividade. A emoção do locutor durante a retrospectiva marcou essa última edição. O noticiário ganhou uma versão televisiva na TV Tupi e foi transmitido de 1952 a 1970. Seu declínio ocorreu, principalmente, devido ao sucesso do primeiro Jornal Nacional.
Confira trecho da última transmissão do Repórter Esso, em que o locutor, emocionado, faz a retrospectiva dos principais fatos noticiados pelo jornal:
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