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Quando o personagem vira narrador

Por Bianca Marinho


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Há tempos, o tão aclamado furo jornalístico mudou de mãos. Hoje, para dar a notícia com exclusividade basta estar no lugar certo, na hora certa e com um celular com câmera e acesso à internet. Assim, é possível participar de forma ativa do processo de coleta, reportagem, análise e disseminação de notícias, mesmo sem formação jornalística.

A participação de cidadãos comuns na produção de notícias tem sido chamada de jornalismo participativo, jornalismo cidadão (citizen journalism) ou jornalismo open source (código aberto). A produção das notícias, cada vez mais, se vale de informações captadas por cidadãos comuns e a lógica é bem simples: o jornalista não consegue estar em todos os lugares ao mesmo tempo.

Essa mudança na forma de se fazer notícia não vem de hoje. O vídeo do assassinato do presidente John Kennedy nos anos 60 e as imagens de policiais espancando Rodney King em Los Angeles, nos anos 80, foram capturados por pessoas que presenciaram os acontecimentos.  Entretanto, o que fez essa vertente do jornalismo ganhar destaque foi a cobertura do ataque às torres gêmeas, em 2001.  

Um dos primeiros exemplos de jornalismo cidadão surgiu na Coreia do Sul e denominava-se Oh My News. O jornal logo se tornou popular por afirmar que “cada cidadão é um repórter”.  O fenômeno também chamou atenção de veículos tradicionais, como The New York Times, BBC, Estadão, O Globo, entre outros, que desenvolveram canais virtuais para o leitor contribuir na cobertura dos fatos com textos e fotos. Há ainda blogs noticiosos e páginas como o Overmundo, que publica reportagens sobre cultura.


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“Você vê, você informa. Seja um cidadão jornalista” – outdoor norte-americano incentiva o jornalismo colaborativo


O jornalismo colaborativo tornou-se determinante na cobertura de fatos de grande repercussão. O movimento mostrou força nos atentados ao metrô de Londres, em 2005. Diversas vítimas tiraram fotos com celulares e enviaram para as redações dos jornais. A cobertura do episódio realizada pela BBC, maior empresa pública de televisão do mundo, valeu-se exclusivamente de informações de pessoas que presenciaram o atentado.

No Brasil, os protestos realizados em junho deste ano deram destaque à Mídia Ninja. Formado em 2001, o grupo trabalha para dar visibilidade a movimentos sociais por meio de uma cobertura “independente”. A estrutura da Mídia Ninja é descentralizada e faz uso das redes sociais, especialmente do Facebook, para divulgação de notícias. As transmissões são em tempo real, via Internet, por meio de câmeras de celulares.

Nos tempos da interatividade, a produção e recepção já não se encontram em polos opostos, como nos modelos clássicos do processo comunicativo. O fenômeno corrobora com um novo olhar sobre o receptor, que abandona a passividade diante dos meios de comunicação. Com a popularização das formas de colaboração via internet, o cidadão está deixando sua posição de mero espectador das notícias para transformar-se, ele próprio, em um narrador dos fatos. 


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