Moreno, cabelos pretos, olhos claros, lidava com matemática como ninguém, 1,65 metros de altura e 80 kg: gordo.
Negra, cabelos castanhos crespos, rosto lindo, queria ser modelo, 1,80 metros de altura e 90 kg: gorda.
Branca, cabelos loiros com fios brancos, rosto cansado, faltavam 5 anos para se aposentar, problemas de hormônios, 1,72 metros de altura e 88 kg: gorda.
Não é sobre ser negro, branco, moreno de cabelo preto ondulado, mulata de torso esguio e pernas longas, ruiva de sardas no rosto e quadril largo, careca com estatura baixa e barriga de chope.
Não é sobre “Nossa, você é tão bonita. Se emagrecesse ficaria mais ainda!”, ou sobre “Meu Deus, queria ser assim como você e não me importar com o que como!”.
É sobre aprendermos aquilo que se descobre na escola: o quanto nosso país é misturado, com culturas diversas, gostos, ideias e formas diferentes.
Certas características, qualidades e defeitos humanos são mais valorizados que outros. Em um mundo de gênios da química, inteligentes nas biológicas e sagazes músicos, para muitos, nada disso é mais importante do que o fato de você ser negro, mulher, homossexual ou gordo.
Na infância, muitas informações são passadas de maneira ingênua, pois os menores ainda não tem maturidade. Sendo assim, sem entender os problemas que tal assunto pode gerar, alguns pequenos fazem brincadeiras que envolvem gostos, tipos e formas pessoais. Dessa maneira, outras crianças crescem com o fardo de ouvir injúrias de racismo, homofobia e, também, gordofobia.
O termo gordofobia se refere a duas vertentes: quando uma pessoa tem repulsa e medo irracional de adquirir alguns quilos e ficar acima do peso, ou quando a pessoa sente nojo, asco ou raiva e trata com desprezo indivíduos gordos.
É contra a ideia de se sentir mais cheio dentro de uma roupa que se observa notícias de pessoas que tiveram problemas relacionados a cirurgias plásticas. Isso quando não aparecem remédios para emagrecer conciliados com alguma dieta que promete uma barriga enxuta no verão.
Vale ressaltar a forte mídia, que destaca a beleza, a vigorosidade e a saúde aliadas ao corpo magro, com propagandas que vulgarizam pessoas em formas esbeltas. Consequentemente, as pessoas sentem a necessidade de se adequar a um padrão que não existe.
Na perspectiva de estar dentro das regras comportamentais, observamos casos como o desta semana: durante a transmissão do concurso Miss Universo 2017, a Miss Canadá, Siera Bearchell, foi vítima de gordofobia. Ela sofreu a forma que agride verbal ou fisicamente uma pessoa que aparenta estar acima do peso. Apresentadores de TV alegaram que Siera estava maior que as demais concorrentes. Em oposição aos comentários negativos, a Miss recebeu bastante apoio na internet e ficou entre as nove finalistas.
Estar gordo é uma condição que merece cuidado, pois o risco de desenvolver alguma doença devido ao acúmulo de gordura pode ser maior. Porém, de acordo com uma pesquisa realizada na Universidade de York, no Canadá, pessoas acima do peso ideal podem ser saudáveis, menos propensas a problemas cardiovasculares e viver tanto quanto as magras.
É devido a isso que quando levamos os velhinhos ao médico, ou mesmo quando um gordinho faz alguns exames, seus níveis de hormônios e substâncias estão em contagem correta. A partir da premissa que corpos magros são sinônimo de beleza, pessoas mais velhas ou gordas estarem saudáveis é uma revolução contra o sistema.
Em uma sociedade em que devemos nos enquadrar dentro de certas regras de postura, ainda existe espaço para mudar esse status quo. Sendo assim, nascem iniciativas voltadas a apoiar minorias ou transformar a dor em felicidade. Um exemplo é a moda plus size, que trouxe peças de vestuário maiores para o público de peso.
No fim das contas, o certo é apoiar alguém que aceita o próprio corpo ou que esteja interessado em emagrecer de maneira saudável. A obesidade é um problema de saúde importante, que merece atenção e cuidados médicos. Mas isso não significa que uma pessoa tenha que deixar de viver feliz com umas gordurinhas. Apoio e autoestima evitam crescer e ouvir palavras que te fazem mal, como bola, canhão, obeso, balofo, gorducho e banhudo. Afinal, não é sobre ser gordo, é sobre ser humano.
Texto por Carlos Augusto Xavier Arte por Camila Alves
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