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Funk: expressão cultural da periferia ou produto da aculturação da massa?

Quem nunca se deixou levar pelo ritmo de Som de Preto, do DJ Marlboro? Ou quem nunca dançou ao som de Boladona, da Tati Quebra Barraco? O funk carioca caiu na graça do povo e essa história não é recente.

Os conhecidos bailes funk tiveram origem no início da década de 1970, e nesses bailes o que tocava era black music. Na década de 80, os bailes funk do Rio de Janeiro começaram a ser influenciados por novos ritmos como Miami Bass, com batidas mais rápidas e músicas mais erotizadas. Nesse tempo, o novo ritmo adaptado ao país tropical ganhou espaço nas rádios e seus bailes passaram a ser realizados a céu aberto, nas ruas, com carros de som potentes e batalhas de DJ’s. O funk caiu na graça dos moradores da comunidade, que se viram representados por letras que contavam o dia-a-dia da favela com seus problemas e belezas.

Foi nos anos 90 que o funk carioca criou a sua identidade própria. Com diversas vertentes que vão de funk melody, com músicas românticas seguindo a linha americana, ao famoso “proibidão” com letras que fazem exaltação ao tráfico e à erotização. Nos anos 2000, o funk adotou uma nova pegada. Denominada como “pancadão”, essa nova fase conquistou as demais classes sociais. Em resposta à desvalorização do gênero feminino, tema de muitas letras de sucesso do gênero musical, surge Tati Quebra Barraco mostrando resistência à dominação masculina e sendo protagonista de grande sucesso no ramo.

Em contraposição a esse movimento de grande expressividade cultural, críticas de estudiosos e da elite brasileira ao ritmo são altas e fundamentam um discurso de aculturação do funk. Os principais pontos de pauta são as letras apelativas ao consumo ou à venda de drogas, a erotização dos corpos e a falta de criatividade das batidas. Porém, segundo MC Leonardo, dizer que o funk é lixo cultural é ir na contramão da história. O funk como expressão de massa cumpre sua missão de dar visibilidade a uma parcela da população estigmatizada e marginalizada, que no início do século XX foi removida de seus cortiços e levada para a periferia com as reformas urbanas do Rio de Janeiro. O ritmo é o grito das vielas do morro que tenta colocar em pauta temas como a ascensão social das classes D e E, a violência diária e pobreza: cenário diário das favelas cariocas.

O funk, com essa característica de denúncia social, mostra que é manifestação cultural e é reconhecido pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro como “movimento cultural e musical de caráter popular do Rio de Janeiro”. Reconhecimento popular e legislativo mostrando que o funk é expressão cultural sim, e se reclamar vai ter dois!

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