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Conheça o papel da militante Pagu nos quadrinhos

Arte por Wenderson Oliveira

Texto por Ana Luiza de Carvalho

Patrícia Galvão foi a primeira mulher presa política do Brasil, em 1931, ao apoiar uma greve durante o governo de GetúlioVargas. Ela ainda seria presa outras 22 vezes, principalmente por sua militância em partidos comunistas. Patrícia foi chamada de “musa trágica da revolução” por Carlos Drummond de Andrade, mas o  apelido que se popularizou foi outro. O artista Raul Bopp quis elogiar Patrícia em um poema e escolheu Pagu como o que chamou de “nome de guerra”, algo que simbolizasse a força da militante. O apelido veio da abreviação do que ele pensou ser o nome da moça, Patrícia Goulart.

Embora só se tenha conhecimento de oito tiras produzidas por Pagu, ela foi fundamental para que os produtos midiáticos passassem a fazer representações mais democráticas, principalmente de mulheres, por tentar romper padrões durante o século XX.

Desde a consolidação do controle da indústria cultural sobre os quadrinhos, as personagens femininas são retratadas em estereótipos. No contexto das histórias de heróis, a sensualidade e a ambição são destacadas na vilã, enquanto a mocinha é recatada, inocente, delicada.

A representação das personagens representa e reforça a dicotomia que a sociedade faz entre as boas e as más mulheres, encarando de modo negativo características que não significam, isoladamente, uma má índole. Pagu tinha alguns desses comportamentos mal-vistos, como fumar em público e falar palavrões, e criticava quem tentava desvalorizá-la por isso. Nas suas tirinhas, as personagens Kabelluda e Fanika retratavam mulheres sem filhos, comunistas perseguidas pela polícia e combatentes da mídia tradicional.

A luta e os ideais de Patrícia Galvão chegaram a inspirar um dos maiores cartunistas do país, Ziraldo. Nas revistas em quadrinhos do Menino Maluquinho, o protagonista tem uma amiga chamada Pagu, vista como a personagem menos convencional da narrativa. Desde sua aparência  – a menina tem cabelo verde-,  o principal propósito de Pagu é desconstruir visões ultrapassadas e que são de alguma forma prejudicial ao bem comum. Para isso, ela é uma ativista do feminismo e pelos direitos dos animais. De modo geral, a Turma do Menino Maluquinho tenta combater preconceitos e o senso comum de modo sutil, como incluindo personagens negros e gordos relevantes para as narrativas, não como secundários.

A inspiração de Pagu também foi objeto de estudo no Primeiro Encontro Lady Comics, que ocorreu dia 25 de outubro em Belo Horizonte, com debates e palestras sobre a representação de gênero, a construção do roteiro e o crescimento da mídia independente. A Lady Comics é uma organização coletiva de meninas envolvidas no mundo geek em geral que mostram o poder feminino para a criação e o público.

Pagu, além de escritora e jornalista, era envolvida com o meio artístico. Embora poucas das meninas que lutam por espaço nesse meio tenham a fama que Patrícia alcançou, elas também usam os quadrinhos para tentarem transformar preconceitos e mostram que os “mau comportamento” de Pagu não foram em vão.

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