Dentre um alfabeto todo, três letras se elegeram para definir sociologicamente as últimas gerações. A letra “X” define a geração que veio a partir de 1960 até o final dos anos 70, quando as mudanças sociais continuavam a acontecer com força. Começou a se fazer uso dos computadores pessoais, da internet, do celular e da impressora logo após o surgimento. Já na década de 80, aparece a geração Y, que presenciou maiores avanços na tecnologia. Em um ambiente inovador, é a geração da multitarefa, do movimento, da renovação.
Mas se você nasceu a partir de 1991, parabéns: você pertence à geração mais conectada e tecnológica que já existiu até então. Você não conhece o mundo sem internet e se não souber o significado de alguma palavra, o Google é quem vai te responder. Além disso, a internet é quase sinônimo de oxigênio no grupo em que está inserido – entre 13 e 20 anos. É raro alguém dessa geração não sofrer de abstinência quando fica sem o celular por algum tempo. Afinal, o seu primeiro bom dia e o último boa noite é para ele, não é mesmo? Por isso, não é à toa que 97% desses “nativos digitais” não só possuem perfis em redes sociais, mas se informam e se relacionam por meio delas.
Por falar em rede social, um aplicativo criado em 2011 na Califórnia, chegou para ficar e, literalmente, viciar os adeptos. O Snapchat permite aos usuários que se comuniquem por fotos, vídeos e mensagens autodestrutivas com durabilidade de no máximo um dia. Daí parte a ideia de “mídia efêmera” – interações sociais que não deixam rastros online – segundo Evan Spiegel, criador do aplicativo.
Apesar das especulações de que o Snap foi criado para compartilhamento de mídia com teor sexual, grande parte dos usuários o utilizam como uma espécie de vlog instantâneo (vlog se refere à junção das palavras vídeo + blog, em que o indivíduo fala de assuntos de interesse próprio por meio de um vídeo). Isso não tira por completo o voyeurismo do aplicativo – do francês, voyeur se refere a uma pessoa que gosta de observar os outros sem participar, tirando fotos ou gravando momentos íntimos ou privados de outros indivíduos –, mas reforça a ideia de que a vida pessoal do usuário é mostrada ao vivo e em cores para quem o segue. Sendo assim, #SaudadesPrivacidade!
Obviamente, a quantidade e o conteúdo dos snaps é uma escolha pessoal. Há quem tenha paciência para filmar sua rotina inteira – como algumas celebridades estão fazendo – e há quem vá de encontro a essa nova febre. Daniela Falcão, Diretora de Redação da Vogue Brasil, afirmou que não se identifica com os moldes do Snapchat: “O caráter voyeurístico das redes sociais é um de seus maiores atrativos, mas se eu gostasse de Big Brother Brasil assistiria ao original. (…) Os adeptos ao Snapchat, corrijam-me se eu estiver errada, curtem justamente a tosquice dos vídeos e fotos, o excesso de postagens e acham o máximo transformar a própria vida num reality show”, disse – expondo sua opinião na edição 446 da revista. Já a jornalista e editora de moda, Alexandra Farah, opina o contrário: “No snap, o conceito de overposting (número excessivo de postagens) é relativo. Quanto mais, quase sempre, melhor. Você tem apenas 10 segundos por vídeo ou foto para ser divertido, para conquistar. Quanto mais legal sua vida, mais legal seu snap”, conta.
Contudo, a questão não é quem vai vencer esse cabo de guerra de repulsão ou adesão à nova rede. Pessoas da geração X, como Daniela, de fato não se sentem atraídas por essa mídia. Mas sem dúvidas a geração Z – e até a Y, como a de Alexandra, – estão sendo consumidas por esse novo vício. Como consequência, as pessoas começam a viver momentos para que eles se tornem conteúdos públicos e de status, sem realmente desfrutá-los à maneira que lhes são proporcionados. Cria-se a preocupação de fazer snaps em todas as horas do dia e o ato de mostrar o que, quando, como, onde e com quem está fazendo tal ação; torna-se uma necessidade. Isso, claro, não é uma regra geral. Existem pessoas que usam a mídia como diversão esporádica e outros que fazem sucesso com o exagero de vídeos e se mantêm profissionalmente por meio deles.
O Snapchat, portanto, não exige dos usuários excessos ou limites de postagens. Mas uma coisa é fato: tem muito snap virando sinômino de reality show e com grande audiência.
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Arte por Ana Luiza Padilha
Texto por Rachel Sabino
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