Pense nas principais características que um texto jornalístico deve ter. O mais comum é que venham à mente palavras como objetivo, informativo, bem-apurado, sério. De fato, essas são qualidades que devem ser buscadas ao escrever uma matéria, mas há uma delas que, nem sempre, é necessariamente obrigatória: a seriedade. Temos a ideia de que essa característica está intimamente ligada à credibilidade. Mas será que o humor não tem espaço no jornalismo? Caso tenha, como ele se mostra presente?
O humor e a notícia já dividem o mesmo espaço há séculos. Sempre foi comum a presença de charges em jornais, fazendo piadas de assuntos da pauta. Porém, nesse caso, a risada não vinha do texto jornalístico, e sim de algo anexo. Apenas anos depois o humor conquistou espaço na matéria propriamente dita. Isso pode ser visto na referência óbvia que é o programa televisivo CQC (Custe o Que Custar), comandado pelo jornalista Marcelo Tas, no qual se fazem reportagens com abordagem cômica.
O jornalismo escrito também permite o bom humor em certos casos. É o que se vê nessa nota sobre o retorno de Arnold Schwarzenegger aos cinemas, publicada no Omelete, site de notícias de cultura pop.
O Omelete serve de exemplo para provar que credibilidade e seriedade não são conceitos inseparáveis. Apesar de não ter um caráter humorístico, a linha editorial do site permite que sejam feitos comentários bem-humorados em suas matérias, o que não impediu que ele se tornasse referência nacional em notícias de cultura pop, com cerca de um milhão de leitores por mês.
Há casos, porém, em que uma piada pode se tornar fator de estranhamento em uma matéria jornalística. Imagine o quão estranho seria caso uma notícia fosse publicada, por exemplo, na Folha de S. Paulo, um dia após a morte de Osama Bin Laden, e que, no corpo, estivesse escrito:
“Segundo a Casa Branca, Bin Laden, que poderia ser considerado o Campeão Mundial de Pique-Esconde, caso tal título existisse, estava desarmado em seu quarto no momento em que…”
O que se percebe, então, é que o humor no jornalismo age sob as mesmas regras que o regem em outros campos: para funcionar, deve ser feito na hora e no lugar certos. O importante é saber observar o contexto no qual está inserida a matéria, como a linha editorial do veículo ou o assunto tratado, para que a piada possa, em vez de causar desconforto, descontrair a leitura e ajudar a apreender o que está sendo informado.
Por Max Valarezo
Assessor de Comunicação
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