José acabou de fazer os tão esperados 18 anos. Sem ter muito o que comemorar, ele se junta a outros milhares de jovens brasileiros que vão em busca do primeiro emprego, sem grandes perspectivas de ingressar no Ensino Superior. Infelizmente, as chances de José nessa empreitada são mínimas.
Segundo o jornal Folha de S. Paulo, esse ano e os próximos podem somar uma perda de cerca de dois milhões de empregos aos brasileiros. Em paralelo ao desemprego, o país também poderá perder aproximadamente R$ 240 bilhões por bens – agrícolas e industriais – não produzidos, assim como a perda de serviços.
Mesmo com todas as más notícias, José não desanima. Ele sabe muito bem de todos os problemas do Brasil. A imprensa televisiva, a impressa e a online fazem questão de lembrá-lo a todo o momento das notícias desanimadoras.
Contudo, de uma forma um pouco estranha, José não foi muito bem informado sobre a contradição dessa crise: o recorde de rentabilidade dos bancos brasileiros. O ano de 2016 trouxe às claras os dados sobre os lucros dessas empresas, e eles vão de vento em popa.
Um olhar no passado
Naturalmente, não é só porque o José e a grande maioria da população não sabem que isso se torna menos verdade. Muito pelo contrário, os altos lucros bancários são tão sólidos que já fazem história.
Um importante ponto dessa história retorna a 2008. Nesse ano, os bancos Itaú e Unibanco se fundiram em um negócio milionário, que – como será visto daqui a pouco – trouxe lucros massivos.
Os anos seguiram cada vez melhores aos bancos. Em 2013, de acordo com o que o portal G1 noticiou na época, o lucro somado dos quatro principais bancos no Brasil – R$ 20,5 bilhões – era maior que o PIB (Produto Interno Bruto) de 83 países no mundo.
O Brasil melhor que os EUA
Muitas comparações são lançadas cotidianamente para provar o quanto o Brasil poderia ser melhor, tendo em vista o desempenho de outros países. Todavia, em relação ao lucro que os bancos conseguem atingir aqui, nem os EUA conseguem ser melhores.
A consultoria da Economatica (a pedido da BBC Brasil), realizada em 2014 sobre rentabilidade dos bancos de capital aberto no Brasil, deixou claro o poder monetário que esses têm no país. A renda dos bancos – de capital aberto – fechou o ano da Copa em 18,23%.
O número de dois dígitos por si só assusta, mas não tanto se comparado à rentabilidade dos bancos de capital aberto norte-americanos, que foi de apenas 7,68%. Trocando em miúdos: os bancos brasileiros têm rentabilidade maior que o dobro dos bancos dos Estados Unidos.
Subindo a escada do lucro
Para a sorte dos próprios bancos, os lucros não pararam na história. Os três maiores bancos privados do Brasil (Itaú, Bradesco e Santander) lucraram no ano de 2015 o não tão sutil valor de R$ 47 bilhões. Número 14,55% maior que o arrecadado em 2014.
O que também chama a atenção são os lucros do Itaú. Sozinho, o banco conseguiu um aumento de lucro de 30,2% em 2014. A rentabilidade dele foi tão alta que já é registrada como o maior lucro da história dos bancos de capital aberto no Brasil, em torno de R$ 20,6 bilhões.
Mas e a crise?
Se o José e todos os brasileiros tivessem pleno acesso a todos esses dados, talvez uma dúvida fosse comum: como é possível os bancos arrecadarem tanto dinheiro se estamos no auge de uma crise?
Bem, a pergunta tem várias respostas. Por um lado, existe a questão dos bancos aplicarem fortemente em títulos do tesouro. Esses, atualmente, estão com juros altos, gerando um retorno satisfatório. Em soma a isso, está o avanço tecnológico presente no setor, que reduz custos já que há menor necessidade de mão de obra física.
Por outro lado, especialistas lembram que os bancos oferecem ao mercado um produto que está em falta: dinheiro. E seguindo a famosa lei da oferta e da procura, não é muito difícil calcular os resultados. Em síntese, com o aumento de juros e maior procura por empréstimos, os bancos se alimentam da crise.
O alimento é perecível
Para a falta de sorte dos próprios bancos, a tranquilidade de lucros parece estar com os dias contados. A revista Exame prevê um encolhimento dos rendimentos dos bancos de capital aberto no Brasil a partir de 2016.
A razão para o encolhimento retorna a si própria. Isso porque o risco de calote ao longo de 2016 vai aumentar exponencialmente, devido ao avanço do desemprego, que vai forçar o brasileiro a não honrar as dívidas.
Dentro de toda essa confusão, uma coisa é certa: os bancos ainda terão a capacidade e o apoio para lucrarem. Já José, para a própria sorte, continuará tentando achar um bom emprego, mesmo sendo um mero símbolo de outros milhares de jovens.
Arte por Camila Martins
Texto por Ronayre Nunes
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