Por Marina Torres
Produzir uma matéria jornalística nunca é fácil. Além de todas as dificuldades de execução, pode ser muito caro tirar um projeto do papel, principalmente para jornalistas independentes que não são financiados por veículos midiáticos particulares. Mas uma nova tendência da internet pode facilitar, e muito, o trabalho desses profissionais: o financiamento coletivo — a conhecida “vaquinha”.
Já existem iniciativas no mundo todo que visam incentivar o jornalismo independente e colaborativo ao repensar a influência da tecnologia nos processos de trabalho e pagamento. Elas fornecem o espaço para que jornalistas possam mostrar suas ideias a possíveis doadores e então consigam, a partir da ajuda financeira, produzir e publicar reportagens excelentes.
Na Contributoria (https://www.contributoria.com/), projeto do Guardian Media Group (The Guardian e Observer) que combina financiamento coletivo e produção colaborativa, por exemplo, o processo acontece em três etapas: planejamento, produção e publicação. Na fase de planejamento, jornalistas que já foram pré-aprovados naContributoria sugerem pautas e ideias, as quais podem ser financiadas. Se ideias arrecadam pontos (backers) suficientes, podem passar para o estágio de produção.

Página da Contributoria
Na segunda fase, os membros do site podem participar do processo jornalístico e ajudar os escritores aprovados a redigir o rascunho do artigo através do Poetica, uma plataforma similar ao Google Docs, que permite edição de arquivospor diversos usuários em tempo real. Depois, o artigo é finalizado e publicado no site com licença Creative Commons. Por fim, os jornalistas são pagos através de um fundo que tem origem nas doações e taxas pagas pelos membros.
Já o projeto brasileiro O Sujeito (http://osujeito.catarse.me/)funciona com um canal especial no Catarse, maior plataforma de financiamento coletivo do Brasil. As propostas de reportagem passam pela equipe técnica dos gestores do canal, e, se aprovadas, ficam on-line durante 60 dias para receber apoio financeiro dos leitores interessados. A Spot.us, plataforma reconhecida e pioneira no tema, permite que os leitores escolham temas que os interessem e financiem jornalistas dispostos a escrever sobre essas pautas. Depois, o projeto se empenha em vender o artigo para jornais e veículos locais e divide o dinheiro entre os leitores que financiaram o projeto de reportagem inicialmente.
Os jornalistas e leitores têm se mostrado otimistas com os efeitos e benefícios da nova tendência. Em pesquisa realizada por Tanja Aitamurto, da Universidade de Stanford, jornalistas afirmaram que ter um projeto financiado é “pessoalmente motivador e gratificante”. Por outro lado, doadores disseram que contribuem para “apoiar o jornalismo de alta qualidade e uma sociedade democrática saudável”.
Sem dúvidas, o financiamento coletivo traz muitos benefícios para o jornalismo: apoia a comunidade de profissionais freelancers e independentes, democratiza o processo de produção de conteúdo, incentiva uma forma de produção jornalística de grande qualidade que é livre da pressão da concorrência existente nos grandes veículos de mídia e inspira a cooperação entre leitores e jornalistas. Apesar da resistência dos profissionais conservadores, que acreditam que o colaborativismo pode acabar com o jornalismo, com certeza, essa é uma tendência que vale a pena observar!
Várias outras iniciativas se destacam:
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