Já parou para pensar como a moda tem o poder de se comunicar com o mundo e com as pessoas? Partindo da etimologia, a palavra vem do latim modus, que significa modo, maneira, comportamento. Já em inglês, fashion remete ao latim factio, que significa o ato contínuo de fazer, fabricar. Sendo assim, moda se relaciona com a produção e o comportamento de uma determinada época. É a ligação entre o vestuário e o período histórico em que vivemos.
Moda vai além de desfiles e tendências. Aliás, ela é o reflexo das tendências. Também não é só saber o que está em alta ou combinar adequadamente peças do guarda-roupa. Vai além de reproduzir hábitos e costumes.
Moda é história
Assim como o tempo, a moda é cronológica e cada parte dela conta uma história. O vestuário chegou onde está hoje porque pessoas se desafiaram a transformá-lo e a comunicá-lo de uma forma inovadora à época. A Europa foi o berço dessa mudança e, com o passar do tempo, o vestir se adaptou à cultura, ao clima e à posição social.
A moda de hoje carrega contextos históricos. Você se lembra de O Diabo Veste Prada? O filme, baseado no livro de Laura Weisberger, é protagonizado por Meryl Streep e Anne Hathaway. Streep interpreta Miranda Priestly, Editora-chefe da revista fictícia Runway. Já Hathaway atua como Andrea Sachs, uma aspirante a jornalista que não se importa muito com a indústria da moda e seus correlatos.
Em uma cena do filme, Miranda fica na dúvida em qual acessório escolher para finalizar a produção de um editorial da revista. Há duas opções de cintos: ambos da mesma cor. Ela fica em dúvida, pois acha os dois muito diferentes. Andrea dá uma risada levemente irônica, como quem não vê nenhuma diferença entre os dois.
Andrea vestia, na ocasião, um suéter azul celeste, e Miranda expõe o contexto da peça. Explica que, anos atrás, Oscar de La Renta e Yves Saint Laurent fizeram coleções na cor azul celeste. Em seguida, as lojas fast fashion pegaram os dois estilistas como referência e produziram peças – mais acessíveis – na mesma cor.
De uma forma sarcástica, Miranda esclarece como criações do passado influenciam escolhas e gostos pela moda do presente. O que a indústria da moda atual produz provavelmente são releituras e reproduções do que já se criou no passado por pessoas relevantes. A calça no guarda-roupa feminino? Chanel. O visual andrógino? Yves Saint Laurent. A minissaia? Mary Quant. O vestido transpassado? Diane Von Fürstenberg. É provável que você tenha alguma dessas peças no seu armário e, de uma forma ou de outra, elas carregam cores, razões e contextos.
Moda é conteúdo
Dessa forma, se a moda sustenta história, ela também tem que sustentar conteúdo. No final de setembro deste ano, durante a Semana de Moda de Milão, editores da Vogue americana criticaram a postura das blogueiras ante os desfiles. Alessandra Codina, Editora de Notícias do portal da Vogue, publicou: “Parece que tudo se trata de aparecer, posar, sentar, checar o feed das mídias sociais, fugir, trocar de roupa, repetir… É bem embaraçoso – ainda mais quando você se pergunta o que mais está acontecendo no mundo.” Além de Codina, outros editores se posicionaram, ao questionarem e irem contra a postura das digital influencers durante os desfiles internacionais.
A questão é que tudo isso soa um pouco contraditório, visto que as blogueiras têm sido um grande apoio de renda para as revistas de moda, como a Vogue. O jeito de se fazer um editorial, por exemplo, já mudou: agora vale mais a pena ter uma blogueira como modelo, usando roupas da marca que comprou o espaço na revista para divulgação. O contato com o público fica maior, já que a identificação entre o leitor e a blogueira é mais rápida. Assim, a marca consegue alcançar consumidores com mais eficácia.
Em suma, a questão não é ir de encontro ao trabalho das blogueiras, mas mostrar que moda vai além de usar roupas de marca e postá-las nas mídias sociais. Entender de moda também não consiste em estar na primeira fila de um desfile, mas saber o porquê de estar ali. Consuelo Blocker, profissional da área, postou em seu blog uma opinião sobre o ocorrido e a importância de ter conteúdo e estudo no mundo da moda. Consuelo concorda com a posição da revista Vogue e afirma que é de responsabilidade dos influencers terem conteúdo e informação.
Moda é informação
Informação vem do latim informare, dar forma a um conteúdo, contar algo a alguém. Logo, a moda informa. Informa estilos, expressões, humor e individualidade. Da mesma maneira que nos comunicamos por meio de palavras e gestos, a moda se comunica por meio da história e da (re)produção do vestuário.
Do que ela carece – e pede – são mais profissionais interessados e habilitados em estudá-la de uma forma ampla para que informem à sociedade o que a moda quer dizer.
Moda é história, conteúdo, informação. Comunicação.
Texto por Rachel Sabino Arte por Daniela Franca
Comments